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(DES) CAMINHOS DA EDUCAÇÃO - 11/2015


CRIANÇAS, JOVENS E BANANAS VERDES

Quem é um pouco mais velho ou morou no interior vai se lembrar do costume de enrolar banana verde no jornal como forma de acelerar o seu amadurecimento. Por várias vezes passa pela minha cabeça que estamos enrolando nossas crianças e jovens no jornal. Falo isso ao avaliar alguns processos, conversando ou ouvindo pais, até mesmo observando as discussões e modas da educação formal e informal. Não são poucos os pais que chegam à Educação Infantil não interessados em saber se seus filhos sabem dividir o material, se respeitam as regras ou combinados de um jogo, se se relacionam bem com os colegas. Ao contrário, querem saber do resultado do ENEM da escola! Comparam seus filhos com outros; sentem-se ansiosos querendo que ele leia ou escreva aos 4 anos; afinal, o vizinho já o fez! Provocam uma antecipação generalizada e desenfreada, apostando que estão saindo na frente da corrida maluca. Parece que a lógica é, quanto mais cedo e quanto mais, melhor. Vamos devagar, essa lógica pode funcionar com banana, com gente, não. Já me deparei com crianças entediadas aos 7 anos que, muito provavelmente, serão rebeldes sem causa na adolescência. Criança aos 10 anos sem brilho e sem encanto no olhar. Acham tudo monótono. Parece que já viram tudo. Meninas, ainda na Educação Infantil, se ocupam excessivamente com roupa, com a maquiagem e já sabem a arte de fazer caras e bocas no momento da foto, que, com certeza, irá para o Facebook. A festa, que deveria ser de casamento, é de um ano de vida, 10, 15. São transformadas, sem que tenham noção, em pequenas sedutoras, numa clara antecipação da sexualidade, da expressão da sexualidade adulta. Precisam receber, constantemente, elogios. Desse jeito, lidar com a frustração fica muito difícil. Apagamos a diferença entre o universo adulto e o infantil. Somos todos crianças ou todos jovens. Os adultos sumiram, juntamente com os idosos. Esquecemos que nossas experiências e maturidade nos ajudam a mediar a realidade e que é preciso passar por algumas coisas na hora certa. Nem antes e nem depois. Nem mais e nem menos. Antecipamos as experiências. Encurtamos a infância, suprimimos os modos de ser e de viver próprios da cultura infantil e, com isso, prolongamos a adolescência, que parece não ter mais fim. Poucos são os que, na idade adulta, são, de fato, adultos. Lançamos nos adolescentes de 14 anos os nossos anseios, expectativas e medos. Mal sabem o que fazer com o corpo que cresce desengonçado e cheio de espinhas e já exigimos deles “que decidam sobre o que irão ser no futuro”. Quantos de nós, adultos, com 30, 40 anos, ainda não sabemos o que iremos ser? Somos aquilo que os outros decidiram por nós, que o mercado disse que “dava dinheiro” e não aquilo que gostaríamos de ser. A pressão aumenta, de forma assustadora, no fim do ensino médio. Aí, estamos diante da pessoa concluída, com todo o futuro definido. O que menos interessa é se o curso tem relação com você, com seus talentos e aptidões. Ao contrário, tem que ser o curso tal, da faculdade tal, e só vale se for entre os primeiros lugares. Aos 18 anos, a banana verde tem que estar “madurinha” para receber os parabéns, a medalha e o selo do sucesso. O jovem chegou ao topo do monte. E daí? Onde está a experiência de vida, aquela tão real que chega a doer? Experiência que nos toca, pois advinda dos embates com os coleguinhas, da luta, do fracasso, do exercício de levantar-se? Sejamos realistas: quantos de nossos filhos nunca andaram de ônibus sozinhos!? Concluímos que, para viver nesse mundão, fizemos muito pouco por eles, para não dizer que os atrapalhamos. Só á casca amadureceu. São grandes, fortes e alguns até barbados, entretanto, por dentro, e por nossa culpa, ainda estão todos verdinhos. Ressalto, para finalizar, que falo não da realidade de todas as crianças e jovens e nem de todas as família. Independentemente se é das camadas populares com grandes precariedade ou de nível socioeconômico elevado e com grandes oportunidades, sempre teremos pais e mães sensatos e que sabem que a vida é longa, não termina aos 18 anos e que as experiências de vida, as reais, as verdadeiras são imprescindíveis. Elas nos mudam. Ainda bem!


Aleluia Hering Lisboa Teixeira
Doutora em educação (UFMG)







ESCOLA E A LISTA DOS PERDEDORES


Certa vez, em uma entrevista, o piloto Nélson Piquet contou que, quando seu filho, também piloto, chegou à casa comemorando o segundo lugar numa corrida, lhe disse: “O segundo colocado é o primeiro, na lista dos perdedores”. Para além do talento de campeão, Piquet ficou conhecido por seu humor peculiar mas, na frase dirigida a Nelsinho Piquet, representa bem o espírito que move a cultura de competitividade nas sociedades modernas, em que o vice não tem vez. No mundo esportivo, isso pode até virar piada e folclore, mas, em outras áreas, o resultado pode ser trágico.
Os índices de suicídios entre jovens no Japão e na Coreia do Sul são os mais altos do mundo. Nesses países, a junção da alta competitividade com a rigidez de uma cultura da honra não dá muito espaço ao fracasso. Jovens que, por exemplo, não são bem sucedidos nos estudos acabam sofrendo rejeição e discriminação na família e entre os colegas, numa espécie de bullyng social. Muitos não resistem a essa pressão.
No Brasil, desde a instituição dos exames vestibulares e, mais recentemente, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a mídia e o mercado educacional se agitam a cada publicação dos resultados das provas. Então, nas telas da TV, nos outdoors, por toda parte, rostos ainda adolescentes, caras-pintadas sorridentes, são estampados ao lado dos nomes das respectivas escolas “formadoras de campeões”. E para conquistar esse mercado vale tudo.
Exemplo disso é que, muitas vezes, o resultado das provas decorre de uma prática muito comum atualmente. Os alunos são separados em unidades diferentes para elevar os resultados e a colocação no certame. Tudo isso tem um caráter muito mais publicitário do que realmente educacional, o que resulta em maior captação de alunos para essas instituições.
Minha intenção não é questionar determinada postura ou dizer quem está no caminho certo ou errado, mas trazer à tona uma discussão: a competitividade é tão importante quanto a formação humana? Será que estimularmos, desde cedo, nossos jovens a buscar somente o primeiro lugar é mais importante que ensinarmos a partilhar, a entender seus deveres e direitos como cidadãos?
A formação acadêmica também sente os reflexos de um ensino excessivamente focado em boas colocações nos vestibulares. Aparentemente, é mais fácil e eficaz memorizar um conteúdo visando a uma prova ou concurso, usando macetes que valorizam a decoreba. Passado aquele momento, o que foi “aprendido” é rapidamente esquecido.
Já aquela matéria trabalhada em sala de aula e em laboratórios bem equipados, por meio de métodos efetivos de aprendizado, tem claramente uma chance maior de passar a fazer parte de um conhecimento realmente adquirido, para toda a vida daquele aluno. A situação se apresenta, então, da seguinte forma: não se pode negligenciar o fato de que os vestibulares, o ENEM ou os nomes que se queira dar, são o caminho para o ensino superior. Mas são meios, não o fim.
Diante do desafio de escolher uma escola para os filhos, os pais devem ter cuidado para não embarcar na onda das instituições que focam sua eficácia nos índices de aprovação divulgados com estardalhaço e, não raro, desonestidade.
A escola é uma extensão da casa, espaço em que, além da formação acadêmica, deve haver uma continuidade dos valores que são trabalhados em família. Houve um tempo em que se dizia: a escola ensina, a família educa. Hoje, com o ritmo de vida cada vez mais corrido dos pais, é preciso aprofundar essa parceria, sob o risco de criarmos crianças, adolescentes e jovens muito competentes no enfrentamento dos vestibulares de instituições e incapazes de lidar com os desafios da vida.
O problema é que, na nossa sociedade competitiva, nem sempre há muita preocupação com o ser. Importa mais o parecer ou o aparecer, espaços em que reinam a mídia, a propaganda e a publicidade. Nessa perspectiva, o cidadão acaba reduzido a mero consumidor. Nas relações de consumo, um erro pode significar prejuízo. Nas relações afetivas, pode resultar em tragédia.

Eduardo Machado
Coordenador da Pastoral

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